21 Jun
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Em uma declaração polêmica nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a manutenção do benefício das saídas temporárias, conhecidas como "saidinhas", para presos no sistema carcerário brasileiro. Segundo Lula, o percentual de detentos que não retornam após a saída é "tão pequeno" que não justifica a eliminação dessa possibilidade de contato com a família.


"O percentual de presos que não voltam das saidinhas é mínimo. Não compensa destruir a chance que eles têm de visitar suas famílias e manter um vínculo social que é essencial para a ressocialização", afirmou o presidente durante uma conferência sobre políticas penitenciárias realizada no Palácio do Planalto.


A fala de Lula veio em meio a um debate acirrado sobre a eficácia e segurança das saidinhas, um benefício concedido a presos em regime semiaberto, permitindo-lhes passar determinados períodos fora do presídio, geralmente em datas comemorativas como Natal e Dia das Mães. O benefício, previsto na Lei de Execuções Penais, tem sido alvo de críticas por parte de setores que argumentam que ele compromete a segurança pública.


O presidente enfatizou que a maioria dos presos que usufruem das saidinhas retorna ao sistema carcerário dentro do prazo estipulado e que o benefício desempenha um papel crucial na reintegração social dos apenados. "Temos que acreditar na recuperação das pessoas. As saidinhas ajudam a manter a esperança de um retorno à sociedade de forma digna e responsável", declarou.


A declaração de Lula encontrou eco entre especialistas em direitos humanos e ressocialização. Para a socióloga Maria Clara Batista, da Universidade de Brasília (UnB), as saídas temporárias são uma ferramenta importante para a ressocialização dos presos. "As visitas às famílias ajudam a fortalecer os laços sociais e a preparar os detentos para a vida fora do sistema prisional. Sem essa possibilidade, o processo de reintegração se torna ainda mais difícil", explicou a socióloga.


Entretanto, a posição do presidente também gerou reações contrárias. Parlamentares da oposição e representantes de entidades ligadas à segurança pública criticaram a manutenção das saidinhas, argumentando que, mesmo um pequeno percentual de evasão, já representa um risco significativo para a sociedade. "Estamos lidando com a segurança das pessoas. Mesmo que poucos presos não retornem, cada caso é uma potencial ameaça à integridade da população", afirmou o deputado federal Carlos Souza (PSL-SP).


A questão das saidinhas também tem impacto direto na percepção pública sobre o sistema penitenciário e a política de segurança do governo. Pesquisas de opinião mostram que uma parcela significativa da população é contrária ao benefício, associando-o à sensação de impunidade e insegurança.


Em resposta às críticas, Lula afirmou que o governo está comprometido em fortalecer as medidas de monitoramento dos presos durante as saidinhas, utilizando tecnologias como tornozeleiras eletrônicas para garantir o retorno dos detentos no prazo estipulado. "Estamos investindo em monitoramento e em mecanismos de controle para que possamos garantir a segurança pública sem abrir mão de políticas humanitárias e de ressocialização", disse o presidente.


O debate sobre as saidinhas reflete uma tensão maior entre as políticas de segurança e os direitos humanos no Brasil. À medida que o país busca soluções para um sistema penitenciário superlotado e frequentemente criticado por suas condições desumanas, a discussão sobre benefícios como as saídas temporárias se torna cada vez mais relevante.


Enquanto isso, presos e suas famílias aguardam ansiosamente pelas decisões que serão tomadas. Para muitos detentos, as saidinhas representam um raro momento de normalidade e reconexão com o mundo exterior, um passo importante no difícil caminho da ressocialização.

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