O estado do Rio Grande do Sul enfrenta uma tragédia ambiental decorrente das enchentes, mas o desastre não se limita às forças da natureza. Um crescente fenômeno de desinformação tem se espalhado pelas redes sociais, impulsionado por influenciadores e parlamentares de extrema direita. Suas postagens, agora sob investigação da Polícia Federal, exaltam os esforços de voluntários enquanto atacam as ações dos governos e das Forças Armadas.
O professor de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Yurij Castelfranchi, aponta que a desinformação no Brasil tornou-se um fenômeno político. Ele destaca que, dependendo da ideologia seguida, as pessoas escolhem suas fontes de informação, o que, combinado com a mediação dos algoritmos das redes sociais, pode levá-las a cair em teorias da conspiração ou desinformação.
Uma pesquisa recentemente divulgada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, revelou que o meio ambiente e as mudanças climáticas estão entre os temas de maior interesse do público no Brasil. No entanto, metade dos entrevistados admitiu ter se deparado com fake news, e 9% confessaram compartilhar esses conteúdos, mesmo sabendo de sua falsidade.]
Especialistas afirmam que catástrofes climáticas como a enfrentada pelo Rio Grande do Sul favorecem a circulação de desinformação, especialmente quando propagada por perfis alinhados à extrema direita. Fabrício Pontin, professor de Relações Internacionais da Universidade LaSalle, destaca que essas fake news exploram o imaginário de uma população já carente, minando a confiança no setor público e fortalecendo influenciadores amadores.
Um grupo de pesquisa da USP, o Monitor Político, observou um aumento na disseminação de fake news sobre a tragédia climática no Rio Grande do Sul. Em uma nota técnica, eles apontam que a profusão de mensagens "anti-Estado" foi notável, com quase um terço das mensagens publicadas adotando esse tom.
Entre as postagens falsas compartilhadas estão aquelas que relatam a suposta entrada barrada de caminhões com doações pela Receita Federal e a alegação de que voluntários foram impedidos de realizar resgates. Todas exaltam a solidariedade de voluntários em oposição a uma suposta falência do Estado.
A arquitetura da informação das redes sociais é apontada como parte do problema. Gonzatti, especialista, observa que essas plataformas são construídas para manter os usuários consumindo conteúdo, o que dificulta confrontar suas visões de mundo e favorece a circulação de notícias falsas. Pontin também destaca que a disseminação de fake news é, além de uma estratégia política, um modelo de negócios, com as plataformas recompensando a atenção gerada, independentemente da veracidade do conteúdo.
Diante desse cenário, a investigação da Polícia Federal surge como uma resposta crucial para combater a disseminação de desinformação em meio a uma tragédia que exige a união de esforços e a disseminação de informações precisas para garantir a segurança e o bem-estar da população afetada.